quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dicas de Português – Aspectos Semânticos 5


EXPLICAR
– É “esclarecer”. Não é sinônimo de justificar.

JUSTIFICAR
-
É “tornar justo, inocentar”. Não é sinônimo de explicar: “Ele explicou (e não justificou) que só aceitou o dinheiro do tráfico de drogas porque era para ajudar as crianças carentes”; “Isso explica mas não justifica”.

EXPLODIR
– Somente as “bombas explodem”. Evite o sentido figurado: “As bolsas europeias explodiram”; “A sua candidatura começa a explodir (= ambiguidade: crescer ou acabar)”; “Ronaldinho explodiu (= surgiu, apareceu, brilhou) na seleção sub-17”. O verbo explodir é intransitivo, isto é: “as bombas explodiram”. Dizer que “os terroristas explodiram duas bombas nesta madrugada” é inadequado. O certo é: “Duas bombas explodiram...” ou “O s terroristas detonaram duas bombas...”.

FACE A
Locução inexistente. Use em face de: “Em face do exposto, seu pedido foi indefinido.”

FALAR
– Não é sinônimo de “afirmar, declarar, enunciar”. Evite “falou que”. Nesse caso, prefira o verbo “dizer”: “Ele disse (= afirmou) que não viria à reunião.”

FALÊNCIA
– É mais adequado só usar para empresas. Para pessoas físicas, é melhor usar insolvência.

FATAL
– É “que mata”. Portanto, não há “vítima fatal”. O acidente é que foi fatal: “Um acidente fatal com duas vítimas”.

FORA DE SI
– Só pode ser usado na terceira pessoa: “Ela está fora de si”; “Eles ficaram fora de si”. Na primeira pessoa, o correto é: “Eu fiquei fora de mim” (e não “eu fiquei fora de si”).

FORO/FÓRUM
– No sentido de “jurisdição, juízo”, use foro: “No meu foro íntimo...”; para designar o tribunal prefira fórum: “Teve de comparecer ao fórum.” Plural: fóruns.

FRENTE
– Evite a locução “frente a”: “Tremia quando estava frente ao juiz.” Corretas são as locuções: “em frente de”, “na frente de” e “em frente a”: Discutiam em/na frente da professora.” Podemos usar ainda “diante, ante, perante, defronte de”: “Tremia diante do (ou ante ou perante o) juiz.

GRATUITO, FORTUITO, INTUITO, CIRCUITO
– Não têm acento gráfico. Pronuncia-se, portanto, “gratúito, fortúito, intúito, circúito”, nunca “gratuíto, fortuíto, intuíto, circuíto”.

GRAVE –
O estado de saúde é grave, mas não existem “doentes graves” ou “vítimas graves”.

GREVE
– Quem faz greve é empregado: patrão faz locaute.

HABEAS CORPUS
– É a forma latina. A forma aportuguesada é com hífen e acento gráfico: “habeas-córpus”.

HABITAT –
É a forma latina, A forma aportuguesada é com acento agudo: hábitat. Todo hábitat é natural, portanto “hábitat natural” é redundante.

ILEGAL –
É a situação, e não a pessoa. Não existem “imigrantes ilegais”. “O certo é: Os imigrantes estão em situação ilegal.” Também não existem “filhos Ilegais”.

IMISSÃO/IMITIR
– Não devem se confundidos com emissão/emitir. Imissão é a concessão judicial da posse de algum bem; imitir e “fazer entrar na posse”.

IMPACTAR
– Modismo. Evite. Em geral cria ambigüidade: “Isso está impactando a empresa”. (Isso é bom ou ruim?)

IMPRESSO/IMPRIMIDO
– Devemos usar impresso com os verbos ser e estar: “Os convites já foram impressos.” Com os verbos ter e haver, usamos imprimido: “Quando nos foi solicitados, nós já tínhamos imprimido os convites,” (Esta regra é apara verbos com dois particípios.) Com o sentido de “imprimir velocidade”, devemos usar somente imprimido. “uma maior velocidade foi imprimida à rotativa.”

INAUGURA-SE
– “Inaugura-se hoje A Casa dos Atores.” Devemos evitar frases como: “Inaugura hoje nova casa de espetáculos.” Primeiro, a casa é inaugurada (inaugura-se e não inaugura); segundo, inaugurar-se uma casa nova é redundante (se é uma inauguração, a casa só pode ser nova; uma casa velha só poderia ser reinauguração).

INCLUSIVE –
Evite. Tornou-se um vício de linguagem, Em geral, é desnecessário: “Evitou inclusive o escanteio”; “inclusive estava a placa levantada: um minuto de acréscimo”. Só deve ser usado quando existe a clara idéia de inclusão. Inclusive se apõe a exclusive: “Foram todos à reunião, o presidente inclusive.”

INFLIGIR –
É “aplicar pena, imputar”: “Ela infligia muitos castigos à crianças”; “O guarda infligiu a multa”.

INFRINGIR –
É “transgredir, violar, desrespeitar”: “Os motoristas infringiram a lei”.

INTERCESSÃO/INTERSEÇÃO
– Intercessão é o “ato de interceder”, é uma “intervenção”: “Foi salvo graças à intercessão do juiz.” Interseção é “corte, cruzamento”: “Parou na interseção de duas estradas.”

INTERMEDIAR –
É verbo irregular. Segue a conjugação de “mediar”. O certo, portanto, é “Ele intermedeia o caso”.

INÚMEROS
– Significa “incontáveis”. Para grandes quantidades, porém “contáveis”, devemos usar muitos, vários ou numerosos: “Pelé fez muitos (e não inúmeros gols com a camisa do Santos.”

INVASÃO
– Só se houver violência. Se for pacífica, é melhor usar ocupação.

INVESTIGAR
- Rigorosamente, só a coisa pode ser investigada, e não a pessoa: “A polícia está investigando o crime. “Devemos evitar: “O deputado está sendo investigado pela polícia.”

IRÁ IR
– Não devemos usar. Podemos substituir a forma simples do futuro do presente do indicativo pela forma composta com o verbo auxiliar ir no presente: “Ele tratará (ou vai tratar) do assunto”; “Nós proporemos (ou vamos propor) outra data”. Devemos, porém, evitar as formas compostas para os verbos ir (“vai ir”) e vir (“vai vir”). O melhor é: “Ele irá à festa”, “Eles virão à reunião”.

JARGÕES
– Evite. Jargões empobrecem o texto (viatura, elemento, positivo, ocorrência, sinistro...).

JOGOS DE PALAVRAS
– Evitar por falta de originalidade e , às vezes, por mau gosto. Veja alguns exemplos que não devem ser seguidos: “No hospital psiquiátrico, os pacientes corriam como loucos”; “Graças ao pé esquerdo de Rivaldo, a nossa seleção começou com o pé direito”; “Plantadores só colheram prejuízos”.

JORNADA
– Corresponde ao trabalho “diário”. Meia jornada e trabalhar “metade do dia”. Não existe “jornada semanal ou mensal”.

JUDIAR
– Por referência ao sofrimento dos judeus, é melhor substituir por maltratar.

JUNTO A/JUNTO DE
– São locuções sinônimas. Significam “perto de, ao lado de” e são invariáveis: “Minha casa fica junto à (ou junto da) farmácia.

JUNTO COM
– É uma combinação desnecessária: “Ela saiu junto com a irmã.” Basta usar a preposição com: “Ela saiu com a irmã”.

LHE, O
– Na linguagem oral de várias regiões do Brasil, é comum o emprego de “lhe” com qualquer verbo. Na língua padrão, é inaceitável o uso desse pronome em construção como “O presidente lhe convidou para o cargo” ou “O técnico lhe obrigou a ficas na defesa”. O pronome lhe deve ser usado com verbos que pedem preposição, como “pertencer” (“O livro pertence a você/O livro lhe pertence”), “dizer” (“O presidente disse ao governador/O presidente lhe disse”). Convidar e obrigar são verbos transitivos diretos, ou seja, não pedem preposição. Na língua padrão, as formas corretas são “O presidente o convidou para o cargo” e “O técnico o obrigou a ficar na defesa”. Mais raramente, ocorre o contrário, ou seja, o uso indevido de o no lugar de lhe: “O técnico não o permitiu atacar.” A frase dever ser corrigida para “O técnico não lhe permitiu atacar”, já que alguém permite algo a alguém.

LISTA/LISTADO/LISTAR/LISTAGEM
– Lista pode ser uma relação ou sinônimo de listra: “Seu nome não estava na lista dos aprovados”; “Estava com uma camisa listada (ou listrada)”. Listar já pode ser usado como sinônimo de “enumerar, relacionar”. Listagem é “lista feita em computador”.

LITERAL
– Significa “com as mesmas letras”. Uma transcrição literal é uma transcrição fiel ao texto original. Quando dizemos que “alguém está literalmente louco”, significa que ele está verdadeiramente louco, no sentido real da palavra. Portanto, são inaceitáveis frases do tipo: “Ele estava literalmente impedido” (= não devemos usar literalmente no sentido de “totalmente, inteiramente, completamente”); “Não foi uma bicicleta literalmente” (= não foi propriamente uma bicicleta).

MADRUGADA
– É o período do dia que vai da zero hora até o amanhecer. Evite: “Transmitiremos a luta na madrugada de sábado para domingo.” O correto é: Transmitiremos a luta na madrugada de domingo”.

MAIS PEQUENO
– Forma correta e usual em Portugal. No Brasil, devemos usar menor: “É um problema menor.”

MAL, MAU
– Existe um artifício clássico: “mal” é o oposto de “bem”; “mau” é o oposto de “bom”. “Ela canta mal” se opõe a “Ela canta bem”; “Ele é mau cantor” se opõe a “Ele é bom cantor”.

MALCRIAÇÃO/MÁ-CRIAÇÃO
– Embora o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras já registre a forma “malcriação”, é preferível usar a forma má-criação. Plural: más-criações.

MALCRIADO/MAL CRIADO
- Malcriado é adjetivo: “É um menino malcriado.” Mal criado é a forma adverbial: “O menino foi mal criado pelos pais.”

MAL-EDUCADO/MAL EDUCADO
– Mal-educado é adjetivo: “Ela é uma criança mal-educada.” Mal educado é forma adverbial: “Ela foi mal educada pelos pais.”

MALFORMAÇÃO/MÁ-FORMAÇÃO
– Tanto faz. As duas formas são corretas. Plural: malformações e más-formações.

MAQUIAGEM/MAQUILAGEM
– As duas formas estão registradas em nossos dicionários. A preferência é maquiagem, do verbo maquiar, que é regular (eu me maquio, ela se maquia...)

MATERIAL
– Já significa conjunto. Seu uso no plural é desnecessário: “material (e não materiais) de construção”.

MEDÍOCRE
– Apresenta sentido pejorativo. Um “desempenho medíocre” não é mais um “desempenho médio”, e sim um “desempenho ridículo, abaixo da média”.

MEIO, MEIA
– “Meio” não varia quando modifica um adjetivo e equivale a “um pouco”, “mais ou menos”: “A jogadora ficou meio nervosa”, ou seja, “um pouco nervosa”, “mais ou menos nervosa”. Quando modifica um substantivo e indica ideia de fração, metade. É variável: “duas meias doses”, “meio-dia e meia (hora)”.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dicas de Português - CRASE

A palavra crase é de origem grega e significa "fusão", "mistura". Na língua portuguesa, é o nome que se dá à "junção" de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da preposição "a" com o artigo feminino "a" (s), com o pronome demonstrativo "a" (s), com o "a" inicial dos pronomes aquele (s), aquela (s), aquilo e com o "a" do relativo a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a crase. O uso apropriado do acento grave, depende da compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e nomes que exigem a preposição "a". Aprender a usar a crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. Observe:

Vou a a igreja.
Vou à igreja.

No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição "a", exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo "a" que está determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe os outros exemplos:

Conheço a aluna.
Refiro-me à aluna.

No primeiro exemplo, o verbo é transitivo (conhecer algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição "a". Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino "a" ou um dos pronomes já especificados.
Há duas maneiras de verificar a existência de um artigo feminino "a" (s) ou de um pronome demonstrativo "a" (s) após uma preposição "a":

1- Escrever um termo masculino no lugar do termo feminino que se está em dúvida. Se surgir a forma ao, ocorrerá crase antes do termo feminino.

Veja os exemplos:
Conheço "a" aluna. / Conheço o aluno.
Refiro-me ao aluno. / Refiro-me à aluna.

2- Trocar o termo regente acompanhado da preposição a por outro acompanhado de uma preposição diferente (para, em, de, por, sob, sobre). Se essas preposições não se contraírem com o artigo, ou seja, se não surgirem novas formas (na (s), da (s), pela (s),...), não haverá crase.
Veja os exemplos:

- Penso na aluna.
- Apaixonei-me pela aluna.

Atenção: lembre-se sempre que não basta provar a existência da preposição "a" ou do artigo "a", é preciso provar que existem os dois.
Evidentemente, se o termo regido não admitir a anteposição do artigo feminino "a" (s), não haverá crase. Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre:

- diante de substantivos masculinos:

Andamos a cavalo.
Fomos a pé.
Passou a camisa a ferro.
Fazer o exercício a lápis.
Compramos os móveis a prazo.
Assistimos a espetáculos magníficos.

- diante de verbos no infinitivo:

A criança começou a falar.
Ela não tem nada a dizer.
Estavam a correr pelo parque.
Estou disposto a ajudar.
Continuamos a observar as plantas.
Voltamos a contemplar o céu.

Obs.: como os verbos não admitem artigos, constatamos que o "a" dos exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.

- diante da maioria dos pronomes e das expressões de tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:

Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
Entreguei a todos os documentos necessários.
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.
Mostrarei a vocês nossas propostas de trabalho.
Quero informar a algumas pessoas o que está acontecendo.
Isso não interessa a nenhum de nós.
Aonde você pretende ir a esta hora?
Agradeci a ele, a quem tudo devo.

Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes podem ser identificados pelo método explicado anteriormente. Troque a palavra feminina por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo:

Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio Cláudio para sair mais cedo.)

- diante de numerais cardinais:

Chegou a duzentos o número de feridos.
Daqui a uma semana começa o campeonato.
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:

- diante de palavras femininas:

Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.

- diante da palavra "moda", com o sentido de "à moda de" (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):

O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.
Usava sapatos à (moda de) Luis XV.
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.

- na indicação de horas:

Acordei às sete horas da manhã.
Elas chegaram às dez horas.
Foram dormir à meia-noite.
Ele saiu às duas horas.

- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que participam palavras femininas. Por exemplo:

à tarde às ocultas às presas à medida que
à noite às claras às escondidas à força
à vontade à beça à larga à escuta
às avessas à revelia à exceção de à imitação de
à esquerda às turras às vezes à chave
à direita à procura à deriva à toa
à luz á sombra de à frente de à proporção que
à semelhança de às ordens à beira de

Crase diante de Nomes de Lugar

Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do artigo "a". Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a preposição "a". Para saber se um nome de lugar admite ou não a anteposição do artigo feminino "a", deve-se substituir o termo regente por um verbo que peça a preposição "de" ou "em". A ocorrência da contração "da" ou "na" prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Por exemplo:

Vou à França. (Vim da França. Estou na França.)
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto Alegre.)
Cheguei a Pernambuco. (Vim de Pernambuco. Estou em Pernambuco.)
Retornarei a São Paulo. (Vim de São Paulo. Estou em São Paulo.)

ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado, ocorrerá crase. Veja:

Retornarei à São Paulo dos bandeirantes.
Irei à Salvador de Jorge Amado.

Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Aquela (s), Aquilo

Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo regente exigir a preposição "a". Por exemplo:

Refiro-me a aquele atentado.

Preposição pronome

Refiro-me àquele atentado

O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portanto, ocorre a crase.
Observe este outro exemplo:

Aluguei aquela casa.

O verbo "alugar" é transitivo direto (alugar algo) e não exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja outros exemplos:

Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.
Quero agradecer àqueles que me socorreram.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
Não obedecerei àquele sujeito.
Assisti àquele filme três vezes.
Espero aquele rapaz.
Fiz aquilo que você disse.
Comprei aquela caneta.

Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais

A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exigir a preposição "a", haverá crase. É possível detectar a ocorrência da crase nesses casos, utilizando a substituição do termo regido feminino por um termo regido masculino. Por exemplo:

A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.

Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
Veja outros exemplos:

São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam responder nenhuma das questões.
A sessão à qual assisti estava vazia.

Crase com o Pronome Demonstrativo "a"
A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo "a" também pode ser detectada através da substituição do termo regente feminino por um termo regido masculino. Veja:

Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país.
As orações são semelhantes às de antes.
Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Aquela rua é transversal à que vai dar na minha casa.
Aquele beco é transversal ao que vai dar na minha casa.
Suas perguntas são superiores às dele.
Seus argumentos são superiores aos dele.
Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.

A Palavra Distância

Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a crase deve ocorrer. Por exemplo:

Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (A palavra está determinada.)
Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A palavra está especificada.)

Se a palavra distância não estiver especificada, a crase não pode ocorrer. Por exemplo:

Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Ensinou a distância.
Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.

Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade, pode-se usar a crase. Veja:
Gostava de fotografar à distância.
Ensinou à distância.
Dizem que aquele médico cura à distância.

Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA

- diante de nomes próprios femininos:

Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:

Paula é muito bonita Laura é minha amiga.
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.

Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:

Entreguei o cartão a Paula Entreguei o cartão a Roberto
Entreguei o cartão à Paula Entreguei o cartão ao Roberto
Contei a Laura o que havia ocorrido na noite passada
Contei a Pedro o que havia ocorrido na noite passada
Contei à Laura o que havia ocorrido na noite passada
Contei ao Pedro o que havia ocorrido na noite passada

- diante de pronome possessivo feminino:

Observação: é facultativo o uso da crase diante de pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:

Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está esperando por você.
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está esperando por você.

Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:

Cedi o lugar a minha avó Cedi o lugar a meu avô
Cedi o lugar à minha avó Cedi o lugar ao meu avô
Diga a sua irmã que estou esperando por ela
Diga a seu irmão que estou esperando por ele
Diga à sua irmã que estou esperando por ela
Diga ao seu irmão que estou esperando por ele

- depois da preposição até:

Fui até a praia ou Fui até à praia
Acompanhei-o até a porta ou Acompanhei-o até à porta
A palestra vai até as cinco horas da tarde ou A palestra vai até às cinco horas da tarde


Crase sem crise

A procura ou à procura?
Depende.
Em “A procura dos criminosos durou dez dias”, não há o acento da crase porque não há preposição (A procura dos criminosos = sujeito).
Em “A polícia está à procura dos criminosos”, devemos usar o acento grave porque à procura de é uma locução prepositiva.

Observe outros exemplos:

“A base do triângulo mede 10cm.” (=sujeito)
“Ele vive à base de remédios.” (=locução prepositiva)
“A moda de 1970 está voltando.” (=sujeito)
“Ela se veste à moda de 1970.” (=locução prepositiva)
As locuções prepositivas formadas por palavras femininas devem receber o acento grave indicativo da crase: à beira de, à cata de, à custa de, à exceção de, à feição de, à frente de, à maneira de, à mercê de, à moda de, à procura de, à semelhança de…

As vezes ou às vezes?

Usaremos o acento grave somente quando às vezes for uma locução adverbial de tempo (=de vez em quando, em algumas vezes): “Às vezes os alunos acertam esta questão.”; “O Flamengo às vezes ganha do Fluminense.”

Quando não houver a ideia de “de vez em quando”, não devemos usar o acento grave: “Foram raras as vezes em que ele veio aqui.” (as vezes = sujeito); “Em todas as vezes, ele criou problemas.” (= não há a preposição “a“, por isso não ocorre a crase; temos somente o artigo definido “as“).

Saiu a noite ou à noite?

Depende.

Se “saiu a noite”, foi a noite que saiu. Eu vou entender que quem saiu foi a noite (=sentido figurado): “a noite surgiu, apareceu…” ou simplesmente “anoiteceu”.

Entretanto, se você “saiu à noite”, significa que você não saiu “à tarde ou pela manhã”, ou seja, “à noite” é um adjunto adverbial de tempo.

Saiu as 10h ou às 10h?
Só pode ter sido “às 10h”.

“Hora” indica tempo e é uma palavra feminina. É um adjunto adverbial de tempo formado por palavra feminina, logo devemos usar o acento grave: “A aula começa sempre às 7h”; “A reunião será às 8h”; “A sessão só começará às 16h”; “Ele vai sair às 20h”.

A reunião será a ou à partir das 14h?
O certo é: “A reunião será a partir das 14h” (=sem acento da crase).
“A partir de” é uma locução prepositiva formada por um verbo. Não há crase, porque é impossível haver artigo antes de verbo (=partir).

reunião será … das 2h às 4h da tarde ou
de 2h às 4h da tarde ou
de duas a quatro horas ? ? ?

A reunião pode ser “das 2h às 4h da tarde” ou “de duas a quatro horas”. A reunião que vai “das 2h às 4h” começa exatamente às 2h e termina precisamente às 4h. Para haver a ideia de “exatidão, precisão”, é necessário que usemos o artigo definido. Isso justifica o uso da preposição “de” + o artigo definido “as” (=”das 2h”) e a crase (= “às 4h”). Não devemos usar “de 2h às 4h”.

A outra reunião que vai “de duas a quatro horas” não definiu a hora para começar ou terminar. Temos apenas uma ideia aproximada da duração da tal reunião. Não há artigo definido, logo existem apenas as preposições: “de…a”.

Podemos usar essa “dica” em outras situações:

“Trabalhamos de segunda a sexta.” (= de … a …)
“O torneio vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da … à …)
“Leia de cinco a dez páginas por dia.” (= de … a …)
“Leia da página 5 à 10.” (= da … à …)
“Ficou conosco de janeiro a dezembro.” (= de … a …)
“Ficou conosco do meio-dia à meia-noite.” (= do … à …)
“O congresso vai de cinco a quinze de janeiro.” (= de … a …)
“O aumento será de 2% a 5%.” (= de … a …)