quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dicas de Português – Aspectos Semânticos 5


EXPLICAR
– É “esclarecer”. Não é sinônimo de justificar.

JUSTIFICAR
-
É “tornar justo, inocentar”. Não é sinônimo de explicar: “Ele explicou (e não justificou) que só aceitou o dinheiro do tráfico de drogas porque era para ajudar as crianças carentes”; “Isso explica mas não justifica”.

EXPLODIR
– Somente as “bombas explodem”. Evite o sentido figurado: “As bolsas europeias explodiram”; “A sua candidatura começa a explodir (= ambiguidade: crescer ou acabar)”; “Ronaldinho explodiu (= surgiu, apareceu, brilhou) na seleção sub-17”. O verbo explodir é intransitivo, isto é: “as bombas explodiram”. Dizer que “os terroristas explodiram duas bombas nesta madrugada” é inadequado. O certo é: “Duas bombas explodiram...” ou “O s terroristas detonaram duas bombas...”.

FACE A
Locução inexistente. Use em face de: “Em face do exposto, seu pedido foi indefinido.”

FALAR
– Não é sinônimo de “afirmar, declarar, enunciar”. Evite “falou que”. Nesse caso, prefira o verbo “dizer”: “Ele disse (= afirmou) que não viria à reunião.”

FALÊNCIA
– É mais adequado só usar para empresas. Para pessoas físicas, é melhor usar insolvência.

FATAL
– É “que mata”. Portanto, não há “vítima fatal”. O acidente é que foi fatal: “Um acidente fatal com duas vítimas”.

FORA DE SI
– Só pode ser usado na terceira pessoa: “Ela está fora de si”; “Eles ficaram fora de si”. Na primeira pessoa, o correto é: “Eu fiquei fora de mim” (e não “eu fiquei fora de si”).

FORO/FÓRUM
– No sentido de “jurisdição, juízo”, use foro: “No meu foro íntimo...”; para designar o tribunal prefira fórum: “Teve de comparecer ao fórum.” Plural: fóruns.

FRENTE
– Evite a locução “frente a”: “Tremia quando estava frente ao juiz.” Corretas são as locuções: “em frente de”, “na frente de” e “em frente a”: Discutiam em/na frente da professora.” Podemos usar ainda “diante, ante, perante, defronte de”: “Tremia diante do (ou ante ou perante o) juiz.

GRATUITO, FORTUITO, INTUITO, CIRCUITO
– Não têm acento gráfico. Pronuncia-se, portanto, “gratúito, fortúito, intúito, circúito”, nunca “gratuíto, fortuíto, intuíto, circuíto”.

GRAVE –
O estado de saúde é grave, mas não existem “doentes graves” ou “vítimas graves”.

GREVE
– Quem faz greve é empregado: patrão faz locaute.

HABEAS CORPUS
– É a forma latina. A forma aportuguesada é com hífen e acento gráfico: “habeas-córpus”.

HABITAT –
É a forma latina, A forma aportuguesada é com acento agudo: hábitat. Todo hábitat é natural, portanto “hábitat natural” é redundante.

ILEGAL –
É a situação, e não a pessoa. Não existem “imigrantes ilegais”. “O certo é: Os imigrantes estão em situação ilegal.” Também não existem “filhos Ilegais”.

IMISSÃO/IMITIR
– Não devem se confundidos com emissão/emitir. Imissão é a concessão judicial da posse de algum bem; imitir e “fazer entrar na posse”.

IMPACTAR
– Modismo. Evite. Em geral cria ambigüidade: “Isso está impactando a empresa”. (Isso é bom ou ruim?)

IMPRESSO/IMPRIMIDO
– Devemos usar impresso com os verbos ser e estar: “Os convites já foram impressos.” Com os verbos ter e haver, usamos imprimido: “Quando nos foi solicitados, nós já tínhamos imprimido os convites,” (Esta regra é apara verbos com dois particípios.) Com o sentido de “imprimir velocidade”, devemos usar somente imprimido. “uma maior velocidade foi imprimida à rotativa.”

INAUGURA-SE
– “Inaugura-se hoje A Casa dos Atores.” Devemos evitar frases como: “Inaugura hoje nova casa de espetáculos.” Primeiro, a casa é inaugurada (inaugura-se e não inaugura); segundo, inaugurar-se uma casa nova é redundante (se é uma inauguração, a casa só pode ser nova; uma casa velha só poderia ser reinauguração).

INCLUSIVE –
Evite. Tornou-se um vício de linguagem, Em geral, é desnecessário: “Evitou inclusive o escanteio”; “inclusive estava a placa levantada: um minuto de acréscimo”. Só deve ser usado quando existe a clara idéia de inclusão. Inclusive se apõe a exclusive: “Foram todos à reunião, o presidente inclusive.”

INFLIGIR –
É “aplicar pena, imputar”: “Ela infligia muitos castigos à crianças”; “O guarda infligiu a multa”.

INFRINGIR –
É “transgredir, violar, desrespeitar”: “Os motoristas infringiram a lei”.

INTERCESSÃO/INTERSEÇÃO
– Intercessão é o “ato de interceder”, é uma “intervenção”: “Foi salvo graças à intercessão do juiz.” Interseção é “corte, cruzamento”: “Parou na interseção de duas estradas.”

INTERMEDIAR –
É verbo irregular. Segue a conjugação de “mediar”. O certo, portanto, é “Ele intermedeia o caso”.

INÚMEROS
– Significa “incontáveis”. Para grandes quantidades, porém “contáveis”, devemos usar muitos, vários ou numerosos: “Pelé fez muitos (e não inúmeros gols com a camisa do Santos.”

INVASÃO
– Só se houver violência. Se for pacífica, é melhor usar ocupação.

INVESTIGAR
- Rigorosamente, só a coisa pode ser investigada, e não a pessoa: “A polícia está investigando o crime. “Devemos evitar: “O deputado está sendo investigado pela polícia.”

IRÁ IR
– Não devemos usar. Podemos substituir a forma simples do futuro do presente do indicativo pela forma composta com o verbo auxiliar ir no presente: “Ele tratará (ou vai tratar) do assunto”; “Nós proporemos (ou vamos propor) outra data”. Devemos, porém, evitar as formas compostas para os verbos ir (“vai ir”) e vir (“vai vir”). O melhor é: “Ele irá à festa”, “Eles virão à reunião”.

JARGÕES
– Evite. Jargões empobrecem o texto (viatura, elemento, positivo, ocorrência, sinistro...).

JOGOS DE PALAVRAS
– Evitar por falta de originalidade e , às vezes, por mau gosto. Veja alguns exemplos que não devem ser seguidos: “No hospital psiquiátrico, os pacientes corriam como loucos”; “Graças ao pé esquerdo de Rivaldo, a nossa seleção começou com o pé direito”; “Plantadores só colheram prejuízos”.

JORNADA
– Corresponde ao trabalho “diário”. Meia jornada e trabalhar “metade do dia”. Não existe “jornada semanal ou mensal”.

JUDIAR
– Por referência ao sofrimento dos judeus, é melhor substituir por maltratar.

JUNTO A/JUNTO DE
– São locuções sinônimas. Significam “perto de, ao lado de” e são invariáveis: “Minha casa fica junto à (ou junto da) farmácia.

JUNTO COM
– É uma combinação desnecessária: “Ela saiu junto com a irmã.” Basta usar a preposição com: “Ela saiu com a irmã”.

LHE, O
– Na linguagem oral de várias regiões do Brasil, é comum o emprego de “lhe” com qualquer verbo. Na língua padrão, é inaceitável o uso desse pronome em construção como “O presidente lhe convidou para o cargo” ou “O técnico lhe obrigou a ficas na defesa”. O pronome lhe deve ser usado com verbos que pedem preposição, como “pertencer” (“O livro pertence a você/O livro lhe pertence”), “dizer” (“O presidente disse ao governador/O presidente lhe disse”). Convidar e obrigar são verbos transitivos diretos, ou seja, não pedem preposição. Na língua padrão, as formas corretas são “O presidente o convidou para o cargo” e “O técnico o obrigou a ficar na defesa”. Mais raramente, ocorre o contrário, ou seja, o uso indevido de o no lugar de lhe: “O técnico não o permitiu atacar.” A frase dever ser corrigida para “O técnico não lhe permitiu atacar”, já que alguém permite algo a alguém.

LISTA/LISTADO/LISTAR/LISTAGEM
– Lista pode ser uma relação ou sinônimo de listra: “Seu nome não estava na lista dos aprovados”; “Estava com uma camisa listada (ou listrada)”. Listar já pode ser usado como sinônimo de “enumerar, relacionar”. Listagem é “lista feita em computador”.

LITERAL
– Significa “com as mesmas letras”. Uma transcrição literal é uma transcrição fiel ao texto original. Quando dizemos que “alguém está literalmente louco”, significa que ele está verdadeiramente louco, no sentido real da palavra. Portanto, são inaceitáveis frases do tipo: “Ele estava literalmente impedido” (= não devemos usar literalmente no sentido de “totalmente, inteiramente, completamente”); “Não foi uma bicicleta literalmente” (= não foi propriamente uma bicicleta).

MADRUGADA
– É o período do dia que vai da zero hora até o amanhecer. Evite: “Transmitiremos a luta na madrugada de sábado para domingo.” O correto é: Transmitiremos a luta na madrugada de domingo”.

MAIS PEQUENO
– Forma correta e usual em Portugal. No Brasil, devemos usar menor: “É um problema menor.”

MAL, MAU
– Existe um artifício clássico: “mal” é o oposto de “bem”; “mau” é o oposto de “bom”. “Ela canta mal” se opõe a “Ela canta bem”; “Ele é mau cantor” se opõe a “Ele é bom cantor”.

MALCRIAÇÃO/MÁ-CRIAÇÃO
– Embora o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras já registre a forma “malcriação”, é preferível usar a forma má-criação. Plural: más-criações.

MALCRIADO/MAL CRIADO
- Malcriado é adjetivo: “É um menino malcriado.” Mal criado é a forma adverbial: “O menino foi mal criado pelos pais.”

MAL-EDUCADO/MAL EDUCADO
– Mal-educado é adjetivo: “Ela é uma criança mal-educada.” Mal educado é forma adverbial: “Ela foi mal educada pelos pais.”

MALFORMAÇÃO/MÁ-FORMAÇÃO
– Tanto faz. As duas formas são corretas. Plural: malformações e más-formações.

MAQUIAGEM/MAQUILAGEM
– As duas formas estão registradas em nossos dicionários. A preferência é maquiagem, do verbo maquiar, que é regular (eu me maquio, ela se maquia...)

MATERIAL
– Já significa conjunto. Seu uso no plural é desnecessário: “material (e não materiais) de construção”.

MEDÍOCRE
– Apresenta sentido pejorativo. Um “desempenho medíocre” não é mais um “desempenho médio”, e sim um “desempenho ridículo, abaixo da média”.

MEIO, MEIA
– “Meio” não varia quando modifica um adjetivo e equivale a “um pouco”, “mais ou menos”: “A jogadora ficou meio nervosa”, ou seja, “um pouco nervosa”, “mais ou menos nervosa”. Quando modifica um substantivo e indica ideia de fração, metade. É variável: “duas meias doses”, “meio-dia e meia (hora)”.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dicas de Português - CRASE

A palavra crase é de origem grega e significa "fusão", "mistura". Na língua portuguesa, é o nome que se dá à "junção" de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da preposição "a" com o artigo feminino "a" (s), com o pronome demonstrativo "a" (s), com o "a" inicial dos pronomes aquele (s), aquela (s), aquilo e com o "a" do relativo a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a crase. O uso apropriado do acento grave, depende da compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos e nomes que exigem a preposição "a". Aprender a usar a crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. Observe:

Vou a a igreja.
Vou à igreja.

No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição "a", exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo "a" que está determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe os outros exemplos:

Conheço a aluna.
Refiro-me à aluna.

No primeiro exemplo, o verbo é transitivo (conhecer algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição "a". Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino "a" ou um dos pronomes já especificados.
Há duas maneiras de verificar a existência de um artigo feminino "a" (s) ou de um pronome demonstrativo "a" (s) após uma preposição "a":

1- Escrever um termo masculino no lugar do termo feminino que se está em dúvida. Se surgir a forma ao, ocorrerá crase antes do termo feminino.

Veja os exemplos:
Conheço "a" aluna. / Conheço o aluno.
Refiro-me ao aluno. / Refiro-me à aluna.

2- Trocar o termo regente acompanhado da preposição a por outro acompanhado de uma preposição diferente (para, em, de, por, sob, sobre). Se essas preposições não se contraírem com o artigo, ou seja, se não surgirem novas formas (na (s), da (s), pela (s),...), não haverá crase.
Veja os exemplos:

- Penso na aluna.
- Apaixonei-me pela aluna.

Atenção: lembre-se sempre que não basta provar a existência da preposição "a" ou do artigo "a", é preciso provar que existem os dois.
Evidentemente, se o termo regido não admitir a anteposição do artigo feminino "a" (s), não haverá crase. Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre:

- diante de substantivos masculinos:

Andamos a cavalo.
Fomos a pé.
Passou a camisa a ferro.
Fazer o exercício a lápis.
Compramos os móveis a prazo.
Assistimos a espetáculos magníficos.

- diante de verbos no infinitivo:

A criança começou a falar.
Ela não tem nada a dizer.
Estavam a correr pelo parque.
Estou disposto a ajudar.
Continuamos a observar as plantas.
Voltamos a contemplar o céu.

Obs.: como os verbos não admitem artigos, constatamos que o "a" dos exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.

- diante da maioria dos pronomes e das expressões de tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:

Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
Entreguei a todos os documentos necessários.
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.
Mostrarei a vocês nossas propostas de trabalho.
Quero informar a algumas pessoas o que está acontecendo.
Isso não interessa a nenhum de nós.
Aonde você pretende ir a esta hora?
Agradeci a ele, a quem tudo devo.

Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes podem ser identificados pelo método explicado anteriormente. Troque a palavra feminina por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo:

Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio Cláudio para sair mais cedo.)

- diante de numerais cardinais:

Chegou a duzentos o número de feridos.
Daqui a uma semana começa o campeonato.
Casos em que a crase SEMPRE ocorre:

- diante de palavras femininas:

Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão.
Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.

- diante da palavra "moda", com o sentido de "à moda de" (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):

O jogador fez um gol à (moda de) Pelé.
Usava sapatos à (moda de) Luis XV.
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.

- na indicação de horas:

Acordei às sete horas da manhã.
Elas chegaram às dez horas.
Foram dormir à meia-noite.
Ele saiu às duas horas.

- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que participam palavras femininas. Por exemplo:

à tarde às ocultas às presas à medida que
à noite às claras às escondidas à força
à vontade à beça à larga à escuta
às avessas à revelia à exceção de à imitação de
à esquerda às turras às vezes à chave
à direita à procura à deriva à toa
à luz á sombra de à frente de à proporção que
à semelhança de às ordens à beira de

Crase diante de Nomes de Lugar

Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do artigo "a". Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a preposição "a". Para saber se um nome de lugar admite ou não a anteposição do artigo feminino "a", deve-se substituir o termo regente por um verbo que peça a preposição "de" ou "em". A ocorrência da contração "da" ou "na" prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase. Por exemplo:

Vou à França. (Vim da França. Estou na França.)
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto Alegre.)
Cheguei a Pernambuco. (Vim de Pernambuco. Estou em Pernambuco.)
Retornarei a São Paulo. (Vim de São Paulo. Estou em São Paulo.)

ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado, ocorrerá crase. Veja:

Retornarei à São Paulo dos bandeirantes.
Irei à Salvador de Jorge Amado.

Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s), Aquela (s), Aquilo

Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo regente exigir a preposição "a". Por exemplo:

Refiro-me a aquele atentado.

Preposição pronome

Refiro-me àquele atentado

O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portanto, ocorre a crase.
Observe este outro exemplo:

Aluguei aquela casa.

O verbo "alugar" é transitivo direto (alugar algo) e não exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja outros exemplos:

Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.
Quero agradecer àqueles que me socorreram.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
Não obedecerei àquele sujeito.
Assisti àquele filme três vezes.
Espero aquele rapaz.
Fiz aquilo que você disse.
Comprei aquela caneta.

Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais

A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exigir a preposição "a", haverá crase. É possível detectar a ocorrência da crase nesses casos, utilizando a substituição do termo regido feminino por um termo regido masculino. Por exemplo:

A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.

Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
Veja outros exemplos:

São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam responder nenhuma das questões.
A sessão à qual assisti estava vazia.

Crase com o Pronome Demonstrativo "a"
A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo "a" também pode ser detectada através da substituição do termo regente feminino por um termo regido masculino. Veja:

Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país.
As orações são semelhantes às de antes.
Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Aquela rua é transversal à que vai dar na minha casa.
Aquele beco é transversal ao que vai dar na minha casa.
Suas perguntas são superiores às dele.
Seus argumentos são superiores aos dele.
Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.

A Palavra Distância

Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a crase deve ocorrer. Por exemplo:

Sua casa fica à distância de 100 Km daqui. (A palavra está determinada.)
Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A palavra está especificada.)

Se a palavra distância não estiver especificada, a crase não pode ocorrer. Por exemplo:

Os militares ficaram a distância.
Gostava de fotografar a distância.
Ensinou a distância.
Dizem que aquele médico cura a distância.
Reconheci o menino a distância.

Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade, pode-se usar a crase. Veja:
Gostava de fotografar à distância.
Ensinou à distância.
Dizem que aquele médico cura à distância.

Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA

- diante de nomes próprios femininos:

Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:

Paula é muito bonita Laura é minha amiga.
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.

Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:

Entreguei o cartão a Paula Entreguei o cartão a Roberto
Entreguei o cartão à Paula Entreguei o cartão ao Roberto
Contei a Laura o que havia ocorrido na noite passada
Contei a Pedro o que havia ocorrido na noite passada
Contei à Laura o que havia ocorrido na noite passada
Contei ao Pedro o que havia ocorrido na noite passada

- diante de pronome possessivo feminino:

Observação: é facultativo o uso da crase diante de pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:

Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está esperando por você.
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está esperando por você.

Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as frases abaixo das seguintes formas:

Cedi o lugar a minha avó Cedi o lugar a meu avô
Cedi o lugar à minha avó Cedi o lugar ao meu avô
Diga a sua irmã que estou esperando por ela
Diga a seu irmão que estou esperando por ele
Diga à sua irmã que estou esperando por ela
Diga ao seu irmão que estou esperando por ele

- depois da preposição até:

Fui até a praia ou Fui até à praia
Acompanhei-o até a porta ou Acompanhei-o até à porta
A palestra vai até as cinco horas da tarde ou A palestra vai até às cinco horas da tarde


Crase sem crise

A procura ou à procura?
Depende.
Em “A procura dos criminosos durou dez dias”, não há o acento da crase porque não há preposição (A procura dos criminosos = sujeito).
Em “A polícia está à procura dos criminosos”, devemos usar o acento grave porque à procura de é uma locução prepositiva.

Observe outros exemplos:

“A base do triângulo mede 10cm.” (=sujeito)
“Ele vive à base de remédios.” (=locução prepositiva)
“A moda de 1970 está voltando.” (=sujeito)
“Ela se veste à moda de 1970.” (=locução prepositiva)
As locuções prepositivas formadas por palavras femininas devem receber o acento grave indicativo da crase: à beira de, à cata de, à custa de, à exceção de, à feição de, à frente de, à maneira de, à mercê de, à moda de, à procura de, à semelhança de…

As vezes ou às vezes?

Usaremos o acento grave somente quando às vezes for uma locução adverbial de tempo (=de vez em quando, em algumas vezes): “Às vezes os alunos acertam esta questão.”; “O Flamengo às vezes ganha do Fluminense.”

Quando não houver a ideia de “de vez em quando”, não devemos usar o acento grave: “Foram raras as vezes em que ele veio aqui.” (as vezes = sujeito); “Em todas as vezes, ele criou problemas.” (= não há a preposição “a“, por isso não ocorre a crase; temos somente o artigo definido “as“).

Saiu a noite ou à noite?

Depende.

Se “saiu a noite”, foi a noite que saiu. Eu vou entender que quem saiu foi a noite (=sentido figurado): “a noite surgiu, apareceu…” ou simplesmente “anoiteceu”.

Entretanto, se você “saiu à noite”, significa que você não saiu “à tarde ou pela manhã”, ou seja, “à noite” é um adjunto adverbial de tempo.

Saiu as 10h ou às 10h?
Só pode ter sido “às 10h”.

“Hora” indica tempo e é uma palavra feminina. É um adjunto adverbial de tempo formado por palavra feminina, logo devemos usar o acento grave: “A aula começa sempre às 7h”; “A reunião será às 8h”; “A sessão só começará às 16h”; “Ele vai sair às 20h”.

A reunião será a ou à partir das 14h?
O certo é: “A reunião será a partir das 14h” (=sem acento da crase).
“A partir de” é uma locução prepositiva formada por um verbo. Não há crase, porque é impossível haver artigo antes de verbo (=partir).

reunião será … das 2h às 4h da tarde ou
de 2h às 4h da tarde ou
de duas a quatro horas ? ? ?

A reunião pode ser “das 2h às 4h da tarde” ou “de duas a quatro horas”. A reunião que vai “das 2h às 4h” começa exatamente às 2h e termina precisamente às 4h. Para haver a ideia de “exatidão, precisão”, é necessário que usemos o artigo definido. Isso justifica o uso da preposição “de” + o artigo definido “as” (=”das 2h”) e a crase (= “às 4h”). Não devemos usar “de 2h às 4h”.

A outra reunião que vai “de duas a quatro horas” não definiu a hora para começar ou terminar. Temos apenas uma ideia aproximada da duração da tal reunião. Não há artigo definido, logo existem apenas as preposições: “de…a”.

Podemos usar essa “dica” em outras situações:

“Trabalhamos de segunda a sexta.” (= de … a …)
“O torneio vai da próxima segunda à sexta-feira.” (= da … à …)
“Leia de cinco a dez páginas por dia.” (= de … a …)
“Leia da página 5 à 10.” (= da … à …)
“Ficou conosco de janeiro a dezembro.” (= de … a …)
“Ficou conosco do meio-dia à meia-noite.” (= do … à …)
“O congresso vai de cinco a quinze de janeiro.” (= de … a …)
“O aumento será de 2% a 5%.” (= de … a …)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dicas de Português

Lugar-comum. O lugar-comum (ou chavão ou clichê) é a frase, imagem, construção ou combinação de palavras que se torna desgastada pela repetição excessiva e perde a força original. Deve ser evitado a todo custo no jornal, pois transmite ao leitor uma ideia de texto superado, envelhecido e sem imaginação. Nem sempre, porém, o chavão tem origem remota: há também os casos de clichês recentes, difundidos principalmente pela televisão e pelo rádio e adotados inadvertidamente pelos jornais. Veja os tipos mais usuais de lugares-comuns e algumas dezenas deles. Considere-os exemplos de outros que deverão igualmente ser expurgados do noticiário:

1 - As frases e locuções. Entre os chavões mais frequentes, estão às locuções e combinações invariáveis de palavras (sempre as mesmas, na mesma ordem) que também comprometem o texto. Neste caso se enquadram ainda as frases feitas que, embora originárias da linguagem popular (dar a volta por cima, por exemplo), terminam por se repetir à exaustão, produzindo o mesmo efeito do lugar-comum.
Eis os principais exemplos: abertura de contagem, abrir com chave de ouro, acertar os ponteiros, a duras penas, agarrar-se à certeza de, agradar a gregos e troianos, alto e bom som, ao apagar das luzes, aparar as arestas, apertar os cintos, à saciedade, a sete chaves, atear fogo às vestes, atingir em cheio, a toque de caixa, baixar a guarda, banco dos réus, bater em retirada, bola da vez, cair como uma bomba, cair como uma luva, cantar vitória, causar espécie, cavalo de batalha, chegar a um denominador comum, chover a cântaros, chover no molhado, chumbo grosso, colhido pelo ônibus, colocar um ponto final, com a rapidez de um raio, comédia de erros, como um raio, conjugar esforços, consternou profundamente, contabilizar as perdas, coroado de êxito, correr por fora, cortina de fumaça, crivar de balas, dar com os burros n'água, dar mão forte a, dar o último adeus, debelar as chamas, de cabo de esquadra, deitar raízes, deixar a desejar, de mão beijada, depois de um longo e tenebroso inverno, desbaratada a quadrilha, de vento em popa, dirimir dúvidas, discorrer sobre o tema, dispensa apresentações, dizer cobras e lagartos, divisor de águas, do Oiapoque ao Chuí, em compasso de espera, empanar o brilho, em ponto de bala, em sã consciência, encerrar com chave ou com fecho de ouro, ensaiar os primeiros passos, entreouvido em, esgoto a céu aberto, estourar ou explodir como uma bomba, faca de dois gumes, fazer as pazes com a vitória, fazer das tripas coração, fechar as cortinas, fechar com chave de ouro, fez o que pôde, ficar à deriva, fincar o pé, fugir da raia, hora da verdade, inserido no contexto, jogar a pá de cal, jogar as últimas esperanças, jogo de vida ou morte, lavrar um tento, lenda viva, leque de opções ou de alternativas, levar às barras dos tribunais, literalmente lotado ou tomado, lugar ao sol, mão de ferro, morrer de amores, morto prematuramente, na ordem do dia, nau sem rumo, página virada, palavra de ordem, parece que foi ontem, passar em brancas nuvens ou em branco, perder o bonde da história, perder um ponto precioso, perdidamente apaixonado, petição de miséria, poder de fogo, pomo da discórdia, pôr a casa em ordem, pôr a mão na massa, pôr as barbas de molho, pôr as cartas na mesa, preencher uma lacuna, prendas domésticas, procurar chifre em cabeça de cavalo, propriamente dito, reencontrar o seu futebol, requintes de crueldade, respirar aliviado, reta final, sagrar-se campeão, saraivada de golpes, sentar-se no banco dos réus, tábua de salvação, tecer comentários ou considerações, ter boas razões para, tirar do bolso do colete, tirar o cavalo da chuva, tiro de misericórdia, traído pela emoção, trazer à tona, treinar forte, trilar o apito, trocar farpas, via de regra, vias de fato, vida de cachorro e voltar à estaca zero.

2 - As duplas. Existem substantivos e adjetivos que andam sempre aos pares, formando lugares-comuns facilmente evitáveis.
Veja alguns deles: agradável surpresa, água cristalina, amarga decepção, briosa corporação, calor escaldante ou senegalesco, calorosa recepção, carreira meteórica, cartada decisiva, chuvas torrenciais, corpo escultural, crítica construtiva, dama virtuosa, desabalada carreira, doce esperança, doença insidiosa, duras críticas, eminente deputado ou senador, ente querido, escoriações generalizadas, esposa dedicada, ferros retorcidos, filho exemplar, fortuna incalculável, gesto tresloucado, grata satisfação ou surpresa, ilustre estirpe, ilustre professor, ilustre visitante, impiedosa goleada, infausto acontecimento, inflação galopante, inteiro dispor, intriga soez, jogador voluntarioso, laços indissolúveis, lamentável equívoco, lance duvidoso, lauto banquete, manobra audaciosa, mera coincidência, obra faraônica, pai extremoso, parcos conhecimentos, pavoroso incêndio ou desastre, perda irreparável, pertinaz doença, poeta inspirado, prestigioso órgão, profundas raízes, profundo silêncio, proibição terminante, rápidas pinceladas, recônditos rincões, relevantes serviços, rigoroso inquérito, semblante carregado, silêncio sepulcral ou tumular, singela homenagem, sol escaldante, sólidas tradições, sólidos conhecimentos, sonho dourado, subida íngreme, suculenta feijoada, tarefa hercúlea, tradicionais estirpes, trágica ocorrência, tumulto generalizado, último adeus, vaias estrepitosas, valoroso soldado, vetusto casarão, violento incêndio e viúva inconsolável.

3 - As imagens. As pessoas, cidades e coisas têm nomes. Criar imagens, apelidos ou definições que os substituam só contribui para a disseminação de uma série de lugares-comuns que o jornal, por sobriedade e bom senso, tem a obrigação de evitar. Jamais os utilize como opção para as palavras que estão entre parênteses:
Garoto do Parque (Rivelino), Galinho de Quintino (Zico), Canhotinha de Ouro (Gerson), Cidade Luz (Paris), Cidade Maravilhosa (Rio), esporte bretão ou esporte das multidões (futebol), tríduo de Momo (carnaval), precioso líquido (água), astro-rei (Sol), rainha da noite (Lua), soldado do fogo (bombeiro), próprio da municipalidade (Pacaembu), o maior estádio do mundo (Maracanã), enlace matrimonial (casamento), data magna da Cristandade (Natal), tapete verde (gramado), balão de couro (bola), instrumento de trabalho (bandeirinha), tiro de quina (escanteio), profissional do volante (motorista), etc.

4 - As ideias. Não são apenas as palavras, frases, construções ou duplas que se reproduzem ao infinito nos textos, mas também as ideias ou formas de abrir as matérias. Por isso, desconfie sempre de imagens "diferentes" que surjam prontas na sua cabeça e tente lembrar-se se não passam de recordações de outras que você já leu antes. A seguir, algumas dessas fórmulas prontas que aparecem com frequência nos textos:

a) Sonho-pesadelo. A oposição sonho-pesadelo é uma delas e veja exemplos reais de como ela já foi empregada em todo tipo de reportagem ou notícia, principalmente nos títulos e leads: Casa própria, o sonho que vira pesadelo / Sonho de carro vira pesadelo nos consórcios / Classe média: acaba o sonho e começa mais um longo pesadelo / Aposentadoria, o sonho que vira pesadelo a cada fim de mês / Ser o próprio patrão, outro sonho que virou pesadelo / Sonho palmeirense do tri vira pesadelo / O sonho de Israel virou pesadelo.

b) O D, P ou Z da DPZ. Repare quantas vezes você já leu: Duailibi, o D da DPZ, ou Petit, o P da DPZ, ou Zaragoza, o Z da DPZ. Lembre-se, então: a forma perdeu toda e qualquer originalidade.

c) A novela. Pense o mesmo com relação à palavra novela no sentido figurado. Ou você já não viu n vezes títulos ou textos como: Encerrada a novela da venda da TV Jaraguá. / Chrysler no Brasil, longa novela que pode ter um final feliz. / Termina a novela e Juca vai para a Espanha. / Estréia de Rossana vira novela.

d) Mestre Aurélio. Outra forma ultrabatida é escrever sobre um determinado tema e começar o texto pela definição do dicionário, em geral precedida de: "Segundo mestre Aurélio". E segue-se a explicação: brega é isto, corrupção é aquilo, leptospirose significa..., estrambótico quer dizer...

e) Se estivesse vivo... Além de óbvia, esta construção constitui outro lugar-comum a evitar. E, por mais incrível que pareça, sua frequência no noticiário chega a preocupar: Se estivesse vivo, João de Almeida estaria completando hoje 90 anos. E leva a absurdos como: Se estivesse vivo, Ivan dos Santos faria hoje 400 anos.

f) Não poderia imaginar... Outro chavão, em geral introduzido por quando: Quando fez tal coisa, fulano não poderia imaginar que... / Quando recorreu ao Judiciário, o delegado tal não poderia imaginar que a sentença final lhe seria desfavorável.

g) O fantasma. Mais uma imagem repetitiva de que convém fugir. Em geral, alguma coisa traz de volta o fantasma de outra: Desemprego traz de volta o fantasma da recessão de 83 / Corrida preços-salários traz de volta o fantasma da hiperinflação / Decisão revive fantasma do AI-5 / Empresariado teme a volta do fantasma do grevismo.

h) Negócio da China. Já se abusou da imagem negócio da China para tornar mais "atraentes" títulos sobre a vinda do Brasil de missões daquele país: Missão traz negócio da China ao Brasil / Preços são verdadeiros negócios da China / Negócio da China chega ao sertão do Nordeste / Empresários viajam em busca de negócios da China.

i) Não convidem para a mesma mesa ou reunião. Perdeu todo o sabor de novidade essa recomendação: Não convidem para a mesma mesa a cantora e seu ex-empresário. / Não convidem para a mesma reunião o ministro X e o governador Y.

j) Vem aí. Diga-se o mesmo do bordão vem aí para qualquer notícia referente ao animador Sílvio Santos (Sílvio Santos vem aí para prefeito, por exemplo).

k) Do cardápio fez parte. Outra forma que o uso exagerado vulgarizou é esta: noticia-se um almoço entre duas ou mais pessoas e segue-se a informação de que do cardápio fez parte a sucessão presidencial, a fusão da empresa X com a Y ou qualquer outro assunto.

l) Também é cultura. Mais uma imagem empregada à exaustão: Esporte também é cultura / Verde também é cultura / Ilusão também é cultura / Quadrinho também é cultura / Ecologia também é cultura. Enfim, tudo o que se quiser também é cultura.

m) Quente-frio. Trocadilho que o bom senso aconselha a banir do noticiário: Corinthians esquenta o verão de Caraguatatuba / Roupas de frio: preços quentes / Liquidações de inverno aquecem vendas / Preços de roupas de frio podem ser de arrepiar / Inverno aquece lazer na capital / Crise esfria comércio de agasalhos / Produtos de verão chegam com preços escaldantes.

Modismo. O modismo é o lugar-comum cujo uso se intensifica num dado momento, por influência especialmente de meios de comunicação como o rádio e a televisão, do jargão político, artístico, urbanístico, econômico e esportivo ou dos próprios usos e costumes do País. Deve ser evitado não apenas para não atrelar o jornal a um tipo de linguagem perecível, que varia com as circunstâncias, mas também por se tratar de uma prática tão condenável quanto o recurso aos chavões tradicionais. O modismo pode ser tanto uma palavra inexistente que se cria para expressar alguma situação nova, como um termo do vernáculo que se passa a empregar em sentido diferente do usual ou uma frase feita cujo uso termina por ultrapassar os limites do tolerável. O maior cuidado deve ser tomado com os casos de palavras que têm o sentido original desvirtuado, ganhando conotação imprópria ou incorreta (exemplo: penalizar com o significado de punir, que a palavra não tem).
Veja alguns dos modismos mais comuns: abrir as comportas, acontecer (como realizar-se ou ocorrer), administrar (vitória ou vantagem), adorar (qualquer coisa), aflorar, a mil ou a mil por hora, a nível de, anos dourados, aquecer as turbinas, arrebentar a boca do balão, assumir, aterrissar na mesa de ou aterrissar em São Paulo, por exemplo, atirar farpas, a todo o vapor, calor de rachar catedrais, carimbar o passaporte, chocante (como surpreendente), colocação (de assunto ou questão), colocar (assunto ou questão), com a bola toda, com a corda toda, complexo viário, conquistar seu espaço, contabilizar (como reunir, somar ou totalizar), correr atrás do prejuízo, costurar (acordo ou negociação), curtir, decolar (como desenvolver-se), deitar e rolar, demanda de usuários, de repente, descartável, descontraído, despencar (Bolsa), detonar (como desencadear ou provocar), disparar (como afirmar), em grande estilo, em última análise, enfoque, entrar em rota de colisão, esquentar as turbinas, estar na marca de pênalti, estar na sua, estar rindo à toa, exatos (12 anos, por exemplo), extrapolar (como exorbitar ou exagerar), galera (como torcida ou platéia), goleirão, gratificante, imperdível, instigante, ir em busca do prejuízo, junto a (em vez de com ou de), malha viária, mostrar cacife, não convidem para a mesma mesa ou para a mesma reunião, pano de fundo, patamar (como nível ou índice), pelo andar da carruagem, penalizar (como punir), pilotar um instrumento, pintar (como surgir), praticar (preços, juros ou taxas), preocupante, quem viver verá, raposa felpuda, receber sinal verde, rota de colisão, sentir firmeza, sinalizar (como indicar ou projetar), sob o signo de, transparência, transparente, trocar farpas e zagueirão.


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Dicas de Português Pleonasmo

Pleonasmo é uma palavra de origem grega que significa superabundância Chama-se pleonasmo o uso de expressão redundante.
Há dois tipos de pleonasmo: o pleonasmo vício de linguagem e o pleonasmo figura de linguagem.
O pleonasmo vício de linguagem ou pleonasmo vicioso é a repetição desnecessária de um termo ou ideia. Muitas vezes, o uso do pleonasmo acontece porque, com o tempo, houve o esquecimento do significado das palavras ou expressões.


Pleonasmo literário
Também denominado pleonasmo de reforço, estilístico ou semântico, trata-se do uso do pleonasmo como figura de linguagem para enfatizar algo em um texto. Grandes autores usam muito deste recurso. Nos seus textos os pleonasmos não são considerados vícios de linguagem, e sim pleonasmos literários.
Iam vinte anos desde aquele diaQuando com os olhos eu quis ver de pertoQuanto em visão com os da saudade via."(Alberto de Oliveira)
"Morrerás morte vil na mão de um forte."(Gonçalves Dias)
"Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal"(Fernando Pessoa)
"O cadáver de um defunto morto que já faleceu"(Roberto Gómez Bolaños)
"E rir meu riso"(Vinícius de Moraes)
"Magoar-te a ti"(Gimão Macarrão)
Pleonasmo musical
"Vamos fugir para outro lugar"(Gilberto Gil)
"De jeito maneira, não quero dinheiro"(Tim Maia)
"Eu nasci há 10 mil anos atrás"(Raul Seixas)


Pleonasmos viciosos
"amanhecer o dia."
"Almirante da Marinha."
"cursar um curso."
"monopólio exclusivo."
"opinião individual de cada um."
"plebiscito popular ."
"encarar cara a cara."
"viver a vida."
"anexar junto”
"ganhar grátis."
"escolha opcional."
"retornar de novo."
"repetir de novo."
"canja de galinha."
"goteira no teto."
"virar pro lado"
"países do mundo."
"duas metades iguais."
"demente mental."
"sorriso nos lábios."
"bilateral entre os dois."
"multidão de pessoas."
"Acabamento final."
"elo de ligação."
"comparecer pessoalmente."
"entrar para dentro."
"sair para fora."
"roubar objeto alheio"
"essa história é baseada em fatos reais"
"eu já curei uma multidão de pessoas"
"encarar de frente"
"gritar alto "
"hemorragia de sangue"
"subir pra cima"
"a viúva do finado"
"descer pra baixo"
"jantar de noite"
"caos caótico"
"maresia do mar"
"pó de café seco"
"farinha de trigo branca"
"introduzir dentro"
"cochichar baixinho"
"deu uma bica com o pé direito"
"surpresa Inesperada"
“Ilha fluvial do Rio Guaíba”
“consenso geral”
“opinião individual”
“unanimidade de todos”
“encarar cara a cara”
“Vereador municipal”
“erário público”
“decapitar a cabeça”
“exultar de alegria”
“prever de antemão”
“hábitat natural”
“conviver junto”
“minha autobiografia”
“estrelas no céu”
“monocultura exclusiva”
“planos e projetos para o futuro”
“segredo secreto”
“produzir bons (ou maus) produtos”
“bela caligrafia”
“sonhar um sonho”
“há cinco anos atrás”
“amanhecer do dia”
“elo de ligação”
“acabamento final”
“duas metades”
“certeza absoluta”


Dicas
Qualquer Substantivo Coletivo específico é um pleonasmo. É bom lembrar que há dois tipos de substantivos coletivos: o específico e o genérico.
Ex: Cardume de peixe, Enxame de abelha, Multidão de pessoas. O correto seria cardume(substantivo coletivo de peixes), enxame (substantivo coletivo de abelhas, multidão(substantivo coletivo de pessoas)Alguns dos pleonasmos em sentido inverso, também é um pleonasmo.
Ex: Subir pra cima - Descer pra baixo, Fato real - Ficção irreal.


Pleonasmo figura de linguagem.
Figura de linguagem é um rescurso estilístico empregado para emprestar à frase “mais força e colorido, intensidade e beleza.” O preonasmo é uma figura de construção ou figura de sintaxe, isto é, um recurso estilístico, quando tem a função de realçar a ideia, tornando-a expressiva, deixando-a mais elegante, daí ser chamado de pleonasmo de reforço ou estilístico.
Exemplo: Minha felicidade eu a conquistei. A mim me parece certa a observação que ele fez.
Nessas duas frases, temos o emprego de objetos pleonásticos. Na primeira, houve a repetição do objeto direto minha felicidade, ao usar-se outro objeto direto: o pronome a. Na segunda, a repetição do objeto indireto a mim, ao empregar-se outro objeto indireto: me.
Os pronomes esse e isso são pleonásticos, quando reforçam quem, aquele que, e o que.
Exemplos: Quem insistia em ficar na rua, esse estava sujeito a ser assaltado.
O que tu fizeste, isso não me importa.

Segundo Sacconi (1990. P. 339), “São pleonasmo aceitáveis: arrumar arrumadinho; fazer bem feitinho; lavar bem lavadinho; limpar me limpinho.

PLEONASMO DE PALAVRAS INÚTEIS
Por Christian Gurtner

É fato real: eu gosto de escrever palavras da mesma forma que gosto de ler textos. Isso é comum em várias pessoas de vários países do mundo. O hábito da leitura de textos deveria ser regra geral no mundo, pois existe uma multidão de pessoas que nunca tocaram num livro. Há muitos anos atrá conheci um General do Exército que tinha uma filha que toda vez que via um livro abria um sorriso nos lábios, como se a leitura fosse hábitat natural. Mas recentemente ela morreu logo depois de se casar com seu marido. Eu fui ao enterro para dar meus sentidos pêsames ao viúvo da falecida. Ele então me encarou de frente e eu pude ver labaredas de fogo saindo dos seus olhos quando ele gritou alto: Vai to... bem, depois disso saí para fora e nunca mais compareci pessoalmente na casa dele.

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Reescreva o texto.

Versão sem pleonasmo:
É fato: eu gosto de escrever da mesma forma que gosto de ler. Isso é comum em várias pessoas de vários países. O hábito da leitura deveria ser regra no mundo, pois existe uma multidão que nunca tocou num livro. Há muitos anos conheci um general que tinha uma filha que toda vez que via um livro abria um sorriso, como se a leitura fosse seu habitat. Mas recentemente ela morreu logo depois de casar. Eu fui ao enterro para dar meus pêsames ao viúvo. Ele então me encarou e eu pude ver labaredas saindo de seus olhos quando ele gritou: Vai to… Bem, depois disso saí e nunca mais compareci a casa dele.

sábado, 10 de abril de 2010

ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

BASE I

DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS

1º) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:

a A (á) j J (jota) s S (esse)
b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê)
c C (cê) l L (ele) u U (u)
d D (dê) m M (eme) v V (vê)
e E (é) n N (ene) w W (dáblio)
f F (efe) o O (o) x X (xis)
g G (gê ou guê) p P (pê) y Y (ípsilon)
h H (agá) q Q (quê) z Z (zê)
i I (i) r R (erre)

Obs.:
1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo),
ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) equ (quê-u).

2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.

2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:

a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados:
Franklin, frankliniano; Kant, kantistno; Darwin, darwinismo: Wagner, wagneriano, Byron, byroniano; Taylor, taylorista;

b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza; Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;

c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kg-quilograma,
km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.

3º) Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/ jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare. Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos
de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea).

4º) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.

5º) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica: Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat. Integram-se também nesta forma: Cid. em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calcem ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições. Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.

6º) Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Justland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München, por Muniche; Torino, por Turim;
Zürich, por Zurique, etc.

BASE II

DO H INICIAL E FINAL

1º) O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.

2º) O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.

3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste,
pré-história, sobre-humano.

4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

BASE III

DA HOMOFONIA DE CERTOS GRAFEMAS CONSONÂNTICOS

Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário diferençar os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É certo que a variedade das condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos homófomos nem sempre permite fácil diferenciação dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente, se deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som.
Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:

1º) Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim, baixei, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre,
faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara.

2º) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra, algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria,
herege, relógio, sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum, Jerónimo, Jesus, jiboia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti jitirana, laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.

3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia, ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso,farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda, manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa; abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse, Cassilda, codesso(identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar, acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar, percevejo; açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar, Eça, enguiço, Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe.

4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo com esta distinção convém notar dois casos:

a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.

b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar do z: Biscaia, e não Bizcaia.

5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/ fônico: aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix, Félix, Fénix flux; assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez,
matiz, petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz.

6º) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar, blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo de Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar, Veneza, Vizela, Vouzela.

BASE IV

DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS

1º) O c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc (segundo c com valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam. Assim:

a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto.

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo.

c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção.

d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendose, respetivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível; peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.

2º) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da seqüência bd, em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g da sequência gd, em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdalóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da seqüência tm, em aritmética e aritmético.

BASE V

DAS VOGAIS ÁTONAS


1º.) O emprego do e e do i, assim como o do o e do u em sílaba átona, regula-se
fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim, se estabelecem variadíssimas grafias:

a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado, ave, planta; diferente de cardial = "relativo à cárdia"), Ceará, côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási), real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corno/a, crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso.

b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbafonir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, tá voa, tavoada, távola, tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião, arcuense,
assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur, fistula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua, vitualha.

2º) Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:

a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que procedem de substantivos terminados em -elo e -eia, ou com eles estão em relação direta. Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia; aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeino por centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia; correada e correame por correia.

b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/ tônica, os derivados de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode epresentar um antigo hiato: ea, ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano, de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné; poleame e poleeiro, de polé.

c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e -iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde -ano e - ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duniense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniamo, goisiano (relativo a
Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torniano, torniense (de Torre(s)).

d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os substantivos que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal; cúmio (popular), de cume; hástia, de haste; réstia, do antigo neste, véstia, de veste.

e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente, grande número de vezes, dos verbos em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -elo ou -eia (sejam formados em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, por alheio;
cear por ceia; encadear por cadeia; pean, por pela; etc. Estão no segundo caso todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em - eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio (cf. prémio/ prêmio); etc.

f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve- se, por isso: moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em vez de tribu.

g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o, como abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o, como destoo, destoas, etc.; mas acentuar, com u, como acentuo, acentuas, etc.

BASE VI

DAS VOGAIS NASAIS


Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos:

1º) Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento seguido de hífen, representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m, se possui qualquer outro timbre e termina a palavra; e por n se é de timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã, Grã-Bretanha, lã, órfã, sãbraseiro (forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum, flautins, semitons, zunzuns.

2º) Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta representação do a nasal aos advérbios em -mente que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados por z: cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira.

BASE VII

DOS DITONGOS

1º) Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivar, lencóis mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar.

Obs.: Admitem-se, todavia, excepcionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respectivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou seja, ao e aos.

2º) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:

a) É o ditongo grafado ui, e não a seqüência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas de 2ª e 3ªpessoas do singular do presente do indicativo e de 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em air e em -oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói.

b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um u a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito. E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem: fluídico, fluidez (ui).

c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue/tênue, tríduo.

3º) Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros:

a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando- se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocarse o ditongo ũi; mas este, embora se exemplifique numa forma popular como rũi = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à tradição.

b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em. Divergem, porém, nos seus empregos:

i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram, puseram;

ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto, omenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também; convêm, mantêm, têm (3as pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho.

BASE VIII

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS OXÍTONAS


1º) Acentuam-se com acento agudo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas - a, -e ou -o, seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s,), dominó(s), paletó(s,), só(s).

Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/ tônico, geralmente provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta ora como fechada, admite tanto o acento agudo como o acento circunflexo: bebé ou bebê, bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guichê ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê. O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ré (letra do alfabeto grego) e ré. São igualmente admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô, a par de metro.

b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s), ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada -a, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: adorá-lo(s) (de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)-la(s) ou dá(s)-la(s)), fá-lo(s) (de faz-lo(s)), fá-lo(s)-às (de far-lo(s)-ás), habita-la(s)-iam (de habitar-la(s)- iam), tra-la(s)-á (de trar-la(s)-á).

c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal (presente do indicativo etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns, também.

d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, éu ou ói, podendo estes dois últimos ser seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), sóis.

2º) Acentuam-se com acento circunflexo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, seguidas ou não de -s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr), robô(s).

b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos - lo(s) ou -la(s), ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam -e ou -o, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: detê-lo(s) (de deter-lo-(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s)
(de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s) ou pôs-la(s)).

3º) Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua- se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por.

BASE IX

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS


1º) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano

2º) Recebem, no entanto, acento agudo:

a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lúmens); acúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).

Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com a vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmure fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.

b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órgão (pl. órgãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (di. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (di. álbuns), fórum (di. fóruns);húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).

Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus.

3º) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, hoia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.

4º) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português.

5º) Recebem acento circunflexo:

a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respectivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfa13 res), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax(sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices).

b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadascom a grafia a,e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção( s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever) ,fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.

c) As formas verbais têm e vêm, 3as pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respectivamente / tãjãj /, / vãjãj / ou /te)e)j/, /ve)e)j/ ou ainda / te)je)j /, / ve)je)j/; cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem, a fim de se distinguirem de tem e vem, 3as pessoas do singular do presente do indicativo ou 2as pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém),
advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretem (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc.

6º) Assinalam-se com acento circunflexo:

a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), no que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode).

b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo do verbo formar).

7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.

8º) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/ tonica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc.

9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavrasparoxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo
(é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo( s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.

10º) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas
heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é,), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é,), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar; deste (ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste
(é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.

BASE X

DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS


1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraiam (de atrair), atraísse (id.) baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.

2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.

3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/ tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), - la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s,) (de atrair-lo(s); atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s) -ia).

4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheinho (de cheio), sainha (de saia).

5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.

Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim.

6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).

7º) Os verbos aguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/ tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. O verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/
rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delin quis) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas
fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam).

Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registre-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em - inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.).

BASE XI

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS


1º) Levam acento agudo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais
abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta:
árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope,
músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/ tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por seqüências vocálicas póstónicas/ pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (- ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.

2º) Levam acento circunflexo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada
ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por sequências vocálicas póstónicas/ pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.

3º) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais
ou aparentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de
sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu
timbre é, respectivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/ cômodo, fenómeno/ fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/ Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.

BASE XII

DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE


1º) Emprega-se o acento grave:
a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

BASE XIII

DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico).

2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), chapeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita
(de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

BASE XIV

DO TREMA


O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para
distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

BASE XV

DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

1º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arce-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha- cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amorperfeito,
guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, cifro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; contagotas, finca-pé, guarda-chuva.

Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.

2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra- Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os- Montes.

Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné- Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

3º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-dedeus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inâcio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinhagrande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água, lesma- de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

4º) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bemestar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado cf. malcriado),
bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf malfalante), bem-mandado (cf. malmandado).
bem-nascido (cf. malnascido) , bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeitor, benquerença, etc.

5º) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-fiar, aquém- Pireneus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, semvergonha.

6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;

d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;

e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;

f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.

7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio20 Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio- Rio de Janeiro, etc.).

XVI

DO HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO, RECOMPOSIÇÃO E SUFIXAÇÃO


1º) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, hio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto, pseudo, retro-, semi-, tele-, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:

a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/antihigiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra harmónico/contraharmônico, extra-humano, pré-história,
sub-hepático, super-homem, ultrahiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neohelénico/ neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.

Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infraaxilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.

Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, panmágico, pan-negritude.

d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, superrevista.

e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vicepresidente, vice-reitor, vizo-rei.

f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); préescolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).

2º) Não se emprega, pois, o hífen:

a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como hiorritmo, hiossatélite. eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação. extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.

3º) Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará- Mirim.

BASE XVII

DO HÍFEN NA ÊNCLISE, NA TMESE E COM O VERBO HAVER


1º) Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

2º) Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.

Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos verbos querer e requerer, em vez de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no entanto, nos casos de ênclise: quere-o(s), requere-o(s). Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas.

2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo, vo-las, quando em próclise (por ex.: esperamos que no-lo comprem).

BASE XVIII

DO APÓSTROFO


1º) São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:

a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto: d'Os Lusíadas, d'Os Sertões; n'Os Lusíadas, n'Os Sertões; pel'Os Lusíadas, pel'Os Sertões. Nada obsta, contudo, a que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou ênfase: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc. As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego do apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras pertencentes a conjuntos vocabulares imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a A = à, a Os = aos, etc.

b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de maiúscula: d'Ele, n'Ele, d'Aquele, n'Aquele, d'O, n'O, pel'O, m'O, t'O, lh'O, casos em que a segunda parte, forma masculina, é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d'Ela, n'Ela, d'Aquela, n'Aquela, d'A, n'A, pel'A, tu'A, t'A, lh'A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n'O que nos salvou; esse milagre revelou-m'O; está n'Ela a nossa esperança; pugnemos pel'A que é nossa padroeira.

À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do apóstrofo, uma combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a O = ao, a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo pode: a Aquela que nos protege.

c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio, quando importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant’Ana, Sant'Iago, etc. É, pois, correto escrever: Calçada de Sant'Ana. Rua de Sant'Ana; culto de Sant'Iago, Ordem de Sant'Iago. Mas, se as ligações deste gênero, como é o caso destas mesmas Sant'Ana e Sant'Iago, se tornam
perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém. Em paralelo com a grafia Sant'Ana e congêneres, emprega-se também o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final: Nun'Álvares, Pedr'Eanes. Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc.

d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da preposição de, em combinação com substantivos: horda-d'água. cobra-d'água, copo-d'água, estrela-d'alva, galinha-d'água, màe-d'água, paud'água, pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo.

2º) São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo: Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas do artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais (excetuado o que se estabelece nas alíneas 1º) a) e 1º) b) ). Tais combinações são representadas:

a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:

i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse, dessa, desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra, destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui; daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente);

ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, na24 quilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas; noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém.

b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas (apesar de serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de alguém, de algo, de algures, de alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora, ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de além ou dalém; de entre ou dentre. De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução
adverbial de ora avante como do advérbio que representa a contração dos seus três elementos: doravante.

Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: afim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o fato de o conhecer; por causa de aqui estares.

BASE XIX

DAS MINÚSCULAS E MAIÚSCULAS

1º) A letra minúscula inicial é usada:

a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.

b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.

c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos, podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do paço de Ninães, O Senhor do paço de Ninães, Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e Tambor.

d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.

e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).

f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena).

g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).

2º) A letra maiúscula inicial é usada:

a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.

b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro; Atlântida, Hespéria.

c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/ Netuno.

d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social.

e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.

f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo).

g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.

h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas
com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O, Sr., V. Exª.

i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica. geológica, bibliológica, botânica, zoológica etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras, reconhecidas internacionalmente.

BASE XX

DA DIVISÃO SILÁBICA


A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho, lha-no, ma-lha, ma-nha, má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, te-me-se), e na qual, por isso, se não tem de atender aos elementos constitutivos dos vocábulos segundo a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vó, de-sa-pa-re-cer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hipe-ra-cús-ti-co, i-ná-bil, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do), obedece a vários preceitos particulares, que rigorosamente cumpre seguir, quando se tem de fazer em fim de linha, mediante o emprego do hífen, a partição de uma palavra:

1º) São indivisíveis no interior de palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto, sílaba para a frente as sucessões de duas consoantes que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com exceção apenas de vários compostos cujos prefixos terminam em h, ou d: ab- legação, ad- ligar, sub- lunar, etc., em vez de a-blegação, a-dligar, su-blunar, etc.) aquelas sucessões em que a primeira consoante é uma labial, uma velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda
um l ou um r: ablução, cele-brar, du-plicação, re-primir; a-clamar, decreto, de-glutição, re-grado; a-tlético, cáte-dra, períme-tro; a-fluir, a-fricano, ne-vrose.

2º) São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de anasalidade, e uma consoante: ab-dicar, Ed-gordo, op-tar, sub-por, absoluto, ad-jetivo, af-ta, bet-samita, íp-silon, ob-viar; des-cer, dis-ciplina, flores-cer, nas-cer, res-cisão; ac-ne, ad-mirável, Daf-ne, diafrag-ma, drac-- ma, ét-nico, rit-mo, sub-meter, am-nésico, interam- nense; bir-reme, cor-roer,
pror-rogar; as-segurar, bis-secular, sos- segar; bissex-lo, contex-to, ex-citar, atroz-mente, capaz-mente, infeliz- mente; am-bição, desen-ganar, en-xame, man-chu, Mân-lio, etc.

3º) As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade,
e duas ou mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas entra um dos grupos que são indivisíveis (de acordo com o preceito 1º), esse grupo forma sílaba para diante, ficando a consoante ou consoantes que o precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum desses grupos, a divisão dá-se sempre antes da última consoante. Exemplos dos dois casos: cambraia, ec-tlipse, em-blema, ex-plicar, in-cluir, ins-crição, subs-crever, trans-gredir; abs-tenção, disp-neia, inters-telar, lamb-dacismo, sols-ticial, Terp-sícore, tungs-tênio.

4º) As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui, ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala-úde, áreas, co-apeba, co-ordenar, do-er, flu-idez, perdo-as, vo-os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e vogais: cai-ais, caí-eis, ensaí-os, flu-iu.

5º) Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal ou ditongo imediato (ne-gue, ne-guei; pe-que, pe-quei, do mesmo modo que as combinações gu e qu em que o u se pronuncia: á-gua, ambí-guo, averi-gueis; longín-quos, lo-quaz, quais-quer.

6º) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-emos ou serená-los- -emos, vice- -almirante.

BASE XXI

DAS ASSINATURAS E FIRMAS


Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro legal, adote na assinatura do seu nome. Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público.